sábado, 2 de abril de 2011

Dia Internacional do Livro Infantil

O Segredo está no Livro, no Livro está o Segredo

Eu estava muito curioso e ansioso.
Sentado aos pés do Grande Velho, escutava o seu canto. Ao cantar as pedras, ele tornava-as tão leves que flutuavam na água. Quando cantava as ilhas, estas deslizavam para o meio do lago e, se se punha a cantar as estrelas, de um momento para o outro elas apareciam no céu. O que estava em cima ia para baixo e o que estava em baixo ia para cima quando ele cantava.
- Quando serei eu um mago de verdade? - perguntei-lhe puxando a ponta do seu manto de veludo.
- Em breve - respondeu o Grande Velho, e continuou a cantar.
O pêlo do gato dele começou a faiscar. A cauda eriçou-se e engrossou. Ele estava a ver qualquer coisa que eu não via.
- Ainda sou muito jovem? - perguntei curioso.
- Não - disse o Grande Velho, e continuou a cantar.
De repente, um pássaro explorador pousou no ombro do mago e, com o bico, pôs-se a alisar as penas das asas.
Inclinou a cabeça e cravou em mim os seus olhos de pássaro.
- Ainda sou baixinho de mais? - perguntei.
- Não. Não é uma questão de estatura - disse o Grande Velho, e continuou a cantar.
O seu canto fez tremer a copa das árvores. O vento começou a soprar com força e a ulular e, em pouco tempo, estávamos rodeados de uivos e bramidos. Caíam folhas e ramos mortos. O estrépito das árvores fazia-me medo e eu agachei-me para ver os pés.
- Tenho os dedos dos pés pequenos de mais? - perguntei.
- O quê? - disse o feiticeiro, olhando-me suepreendido. As árvores calaram-se.
Mostrei-lhe os meus dedos das mãos e dos pés.
- Um mago precisa de ter as mãos maiores? - perguntei.
- Não - disse o Grande Velho e sorriu.
Colhi uma flor pequenina e cheirei - Tinha um perfume delicado.
- Um mago tem que ter um nariz maior? - indaguei.
- Não - disse o Grande Velho, e parecia estar com vontade de rir.
Eu estava cheio de curiosidade e impaciência. Não aguentava esperar mais. Tinha nascido para ser feiticeiro, mas faltava-me a força. Não sabia como conseguir essa força. Olhei para o pêlo faiscante do gato. As pedras enfeitiçadas pelo mago flutuavam no ar. Resolvi perguntar uma vez mais:
- Quando é que me tornarei...? - comecei.
Foi então que o Grande Velho se curvou e retirou um livro do seu saco. Sorriu astutamente e disse:
- O segredo está no livro, no livro está o segredo.


Hannele Huovi (escritora finlandesa)
Tradução: Luísa Bacelar Ferreira e José António Gomes